Quem é você? Grande outro?
- Valeria Maria
- 27 de abr. de 2022
- 2 min de leitura
Atualizado: 9 de jul. de 2022
Por Valéria Maria
Para Lacan, o grande outro começa com a descoberta da aproximação entre inconsciente e linguagem. Lacan define o Outro como um lugar. Um lugar que não se identifica com o semelhante, com o próximo, com o pequeno outro que é com quem nós conversamos, interagimos, pois essas pessoas em geral são um duplo de nós mesmos.
Todas as pessoas têm uma imagem, um corpo como nós. Essas pessoas, portanto, não estariam à altura de representar radicalmente aquilo que não é o Outro, aquilo que não é o mesmo, aquilo que não é idêntico a nós mesmos.
O grande Outro é um princípio de alteridade radical. O que é alteridade? É a qualidade daquilo que é diferente. Está relacionada à capacidade de nos percebermos a nós mesmos, não como o padrão que a sociedade nos impôs por meio dos processos de educação e cultura, mas, sim, a alteridade é a capacidade de mostrar que só é possível percebermos a nós mesmos em oposição à percepção do outro, no caso do pequeno outro.

O grande Outro é esse lugar de onde recebemos nossas próprias mensagens de maneira invertida. O lugar, que é simbólico, tem a propriedade de nos fazer escutar na posição de sujeito. Lacan nos disse que esse é o princípio do inconsciente. O inconsciente é o Outro que fala a nós mesmos, por meio dos sonhos, dos atos falhos, dos chistes, dos nossos sintomas, das repetições que compõem nossas vidas.
Nós nos relacionamos com isso que, de alguma maneira, nos indica que é o Outro, por um lado, porque sabemos que fomos nós mesmos que produzimos os sonhos e demais coisas já citadas, mas não conseguimos reconhecer diretamente. Nós nos relacionamos com isso como em um enigma, como sendo algo que nos representa além de nós mesmos.
A linguagem é uma alteridade. Nós não nascemos falando, quando nascemos somos expostos a essa alteridade, que nos determina, nos convoca a falar uma língua e isso faz parte do campo do outro. Nós estamos na linguagem, a linguagem está em nós.

Na Clínica psicanalítica, servimo-nos desse lugar como analistas para fazermos nossas interpretações, nossas intervenções, que, no fundo, tem um pouco de analogia e de estrutura com o que Sancho Pança faz com Dom Quixote; afinal, não fazemos outra coisa que não dizer: escute bem o que você está dizendo, escute o que você disse, preste atenção nesse ponto, retenha o quanto há de alteridade nisso que você acabou de dizer.
A Psicanálise não cria, não inventa histórias que vêm de outro mundo, ela vem da própria vida da pessoa – veja bem, da pessoa e não do sujeito. São essas histórias e, então, a partir desse lugar, do Outro (que habita o inconsciente), que vamos convidando as analisandas e os analisandos, seres falantes que estão conosco, a cada vez mais irem se tornando sujeitos para aquilo que elas e eles produzem a partir do seu inconsciente, com tudo aquilo que sempre aparece com o grande Outro.
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